Textos relacionados com os 'posts' do Ponte da Pedra

agosto 29, 2006

Tibério Antunes

Esta menina também não nasceu sem complicações: a placenta ficou aderente à costura da antiga cesariana (de 1970, na dramática estadia na Cruz Vermelha).
O que valeu é que na jogada estava um antigo guarda redes da Académica (vencedor da 1ª Taça de Portugal em 1939) que com “boas mãos” se encarregou de resolver o problema à moda antiga. Já o filho dele se haveria de atrasar, uns anos mais tarde, a um encontro no Particular. Felizmente não houve consequências.

agosto 18, 2006

O Pompeu dos frangos

In “Diário de Noticias”, 30 de Julho, 2006
João Fonseca, Tiago Lourenço (foto)



'Estação de muda' de leitão para frango

Na terra do leitão, o frango também faz história. Na Malaposta, meia dúzia de quilómetros a norte da Mealhada, nas instalações da 16.ª "estação de muda" da primeira estrada que ligou Lisboa e Porto. Nesta antiga mala--posta, restaurante há mais de 40 anos, há bom leitão, naturalmente. Mas não é ele, o bácoro assado à moda da Bairrada, que faz com que muitos automobilistas abandonem a auto-estrada e regressem, alguns minutos, à velha Nacional 1 (EN1/IC2). O motivo do desvio é o frango de churrasco do Pompeu.

O emblemático prato do Pompeu dos Frangos faz, frequentemente, esquecer as suas outras especialidades maiores: o arroz de miúdos e a costeleta bovina. Uma injustiça, reconhecem mesmo os incondicionais apreciadores do frango de churrasco. Como pouco justo será reduzir o res- taurante à cozinha. O acolhedor espaço, feito a partir dos aposentos da que terá sido a maior mala-posta (inaugurada em 1857) ao longo dos 300 quilómetros entre as já então duas maiores cidades do país, também é responsável pela fama da casa.

As suas salas, contando, em painéis de azulejos (fiéis cópias dos expostos no Museu dos CTT), a história das "estações de muda", também explicam a projecção do restaurante. E de espaço de tertúlia, cada vez, porém, menos cultivado, apesar da fidelidade que mantém ao seu ambiente, de granito e madeira, de amplas portas e janelas. Faltam Miguel Torga ou Fernando Valle, entre muitos outros. Mas felizmente ainda há quem continue a apreciar boa mesa em ambiente agradável.

O molho que tempera os frangos já não tem o dedo do Pompeu (1920-1992). Mas continua igual, garantem os clientes mais antigos e fiéis, lembrando que o filho do fundador do restaurante desde muito novo substituía o pai nessa e outras tarefas. O crescimento e decoração da casa, aliás, foram - sempre com o apoio do pai -, obra de Carlos Aires, que desde cedo revelou ter herdado do pai a extraordinária sensibilidade para a gerir.

Carlos Aires, 59 anos - embora lamentando não ter estudado, "pelo menos mais dois anos", no então emblemático Colégio de Nun'Álvares, em Tomar -, reconhece que a sua vida se confunde com a do pai, no restaurante, inaugurado em 20 de Novembro de 1963. "Mas na véspera, pressionados por alguns clientes, já servimos", recorda. Clientes antes de a casa abrir? Isso mesmo. A história do Pompeu dos Frangos começou antes, em Bustos, a 14 quilómetros da Malaposta.

O Pompeu "nunca gostou muito da agricultura e, assim que pôde, mudou de vida". Abriu um café na aldeia, que, então, tinha três médicos e era, por isso, bastante visitada pelos na altura designados delegados de propaganda médica. Uns e outros frequentavam o café, mas lamentavam não ter uns petisquinhos. O proprietário fez--lhes a vontade e o café acentuou a vocação de ponto de encontro de amigos. Um deles, uma noite, apareceu lá, com "um frango roubado", desafiando o dono da casa a assá-lo, no fogareiro doméstico, e a temperá-la com molhos africanos. Pela sua origem ou tempero, "o frango não ficou bom nem mau", mas Pompeu ficou com a certeza de que, corrigindo métodos e temperos, conseguiria melhor. E conseguiu. De tal modo que o frango, apesar de confeccionado artesanalmente, passou a ser referência do café.

O sucesso do churrasco foi tal que Pompeu teve mesmo de ceder à pressão dos amigos e deslocar-se para junto da Nacional 1, para a "estação de muda" (então completamente abandonada) que dá o nome à povoação da Malaposta.

Dona Nina, sua mulher (recentemente falecida), resolveu, entretanto, dar utilidade aos miúdos que, em quantidades crescentes, sobravam. E nasceu o arroz de miúdos, melhor ainda, segundo algumas bocas, que os frangos que o sugeriram.

1.8.06

POMPEU SIMÕES AIRES. TOPONÍMIA DE BUSTOS EM FALTA

Em 9.10.1985 os CTT reconstituíram – com rigor histórico – o chamado ‘correio a cavalo’ no percurso Ponte Pedra – Aveiro. Numa sala do Restaurante ‘Pompeu dos Frangos’, (antiga Mala-Posta) funcionou a estação de correio, tendo sido posto à venda diverso material alusivo à XIV Exposição Filatélica Nacional. A correspondência aí recolhida foi transportada até Aveiro por «carteiro» montado em cavalo, estando equipados a rigor.
As terras de Oliveira do Bairro foram transpostas num ápice galopado até Aveiro.
A televisão recolheu imagens do evento ocorrido no «Pompeu», que devem constar em arquivo da memória da RTP e que poderiam constar em arquivo local ...
O Pompeu, ‘dos Frangos’, apesar da Fama o querer tratar por tu, manteve as raízes do seu chão sempre adubadas pelo convívio natural, franco e baerto, estivesse em que salão estivesse.
A qualidade de vida para o Pompeu não era palavra de discurso de circunstância ou de «banha de cobra». Quando preparou o parque de estacionamento do restaurante teve a preocupação de mandar adornar o espaço com vegetação. [ainda hoje aquela área é um exemplo vivo de qualidade de vida].
A memória das diligências e da mala-posta foi preservada e refrescada com os painéis de azulejo da Fábrica do Outeiro de Águeda (alguns assinados pelo Mestre Breda). E só o Pompeu sabe as voltas que teve de dar para conseguir reproduzir o cenário da época. Em «meia dúzia» de gravuras está a síntese da ligação terrestre entre Lisboa e Porto.
E quando Bustos batia à porta do Pompeu a solicitar ajuda?
Estava sempre disponível.
O Pompeu foi um Embaixador de Bustos por excelência e nunca desvirtuou o nome da sua terra.
O Pompeu tem direito e merece ter nome de praça, busto ou rua.
Senhores “manda-chuva” ou seus promitentes, o Pompeu Simões Aires nasceu em Bustos e deu lonjura a Bustos, por bons motivos.
No meu pv, tentar fazer esquecer o Pompeu é a forma mais comezinha de o perseguir. Só que o Pompeu não deixará de continuar a ser uma das prestigiadas Figuras de Bustos.

sérgio micaelo ferreira,
rossio da póvoa
in
http://noticiasdebustos.blogspot.com/2006/08/pompeu-simes-aires-toponmia-de-bustos.html

agosto 16, 2006

A água do rio

Segundo Platão (Crátilo), Heráclito teria dito que uma pessoa não se poderia banhar duas vezes no mesmo rio. Querendo com isto significar um movimento geral de todas as coisas, numa mudança permanente da própria matéria. Tudo se apresentando em perpétuo devir. Raramente se utiliza a frase nesta acepção. Pelo contrário, ficou a ideia da passagem do tempo, expressa na imagem de um rio. Numa visão trivial do fluxo temporal. Não se sabe ao certo o que queria Heráclito dizer, mas podemos considerar que estamos perante uma visualização da oposição entre o material e o imaginado. Como escrevem Kirk e Raven "a imagem do rio esclarece o género de unidade que depende da conservação da medida e do equilíbrio na mudança." Assim, pode Crátilo afirmar que nem sequer uma vez nos podemos banhar no rio. Pois tal acção implica, por si só, mudança. Recorro a esta proposição para clarificar que a presença irremediável não refere o estático, mas antes um perpétuo devir. Sendo que, para o que aqui nos interessa, o rio indica, não o imaginário, mas o social. O corpo ao banhar-se no social, provoca nesse simples acto, uma transformação radical do preexistente. Em rigor, é esse o sentido da palavra irremediável.